Desde quando me lembro, na esquina da minha rua existia aquela casa. Agora não existe mais. Não caiu com deslizamento ou com alagamentos. Sua solidez e localização não o permitiram. Caiu sob a ação de máquinas possantes. Não vi sua construção, mas vi sua demolição. Ouvi e li os comentários lamuriosos de quem também viu o fim daquela casa. Ando padecendo para passar pelas suas imediações para chegar ao santuário. Ficou perigoso, pois ela se situa em duas ruas, as calçadas estão interditadas e temos que nos precaver com os carros, motos e bicicletas. Bicicletas? Perguntará você. E eu responderei:
Sim, bicicletas, não fazem barulho e andam na contramão… São bem mais perigosas do que carros e motos. Bem, mas voltemos à casa branca e linda. Sem igual. De uma beleza delicada, sem ostentação. Uma casa com um vasto andar inferior, na rua em ladeira, que nos foi emprestado muitos anos por seu proprietário para ser o salão paroquial, onde fazíamos nossas reuniões de JEC e de JOC, nossas festinhas de fim de ano, de primeira comunhão, de filhas de Maria e outras que se realizavam antigamente. Enquanto a igreja católica não teve um local seu para isso, funcionava ali. Sem nada pagar. Mas Deus deu, com toda a certeza, sua recompensa a essas almas generosas. Na casa, quantas pessoas foram recebidas, com carinho, pelos simpáticos donos! Quantas pessoas da família, parentes e amigos ela abrigou…. Quantos lanches, almoços, pouso, foram oferecidos ali. Mas não era a linda casa: era a alma bondosa de seus donos, sempre no alpendre, saudando-nos sorridentes, quando passávamos. A casa, para mim, era um sinal, uma lembrança daqueles distintos amigos. Eles se foram, agora é a vez da casa também ser levada no turbilhão das máquinas e dos operários. E eu pensava que a solidez de sua construção ela ainda ficaria em pé por muito tempo… Algumas, mais velhas, continuam sua missão de abrigar pessoas, mesmo sem aquela clássica beleza. Guardamos as boas lembranças de quem ali viveu. Um dia nossa casa também poderá ser destruída, a casa que abriga nossa alma. Será que estamos agindo como os velhos donos da casa branca da esquina? Como se lembrarão de nós os que ficarem?…
Texto publicado no Jornal O Vale da Eletrônica – Santa Rita do Sapucaí – MG


























linda cronica. Sensivel, de emocionar ….
Santa Rita, está carente de memória.
Que pena!!!
Um abraço.
também sentimos muito a demolição da linda casa da esquina assim como sentimos a dos lindos casarões a existiam em frente a igreja no antigo calsadão infelizmente aqui em nossa cidade não existe um orgão que proiba a demolição de lindas casas antingas como essas e tome como patrimonio historico por isso so nos restam as lembranças
Me emocionei ao ler esta crônica.
Realmente, as palavras carinhosas postadas neste blog me emocionam sempre, algumas são curtas e outras um pouco maiores, mas o que nos faz emocionar é saber que são pessoas amigas, sinceras e, de uma certa forma todas participaram das vidas que a Casa Branca da Esquina abrigou durante décadas.
Somos eternamente gratos a estas pessoas que não deixam apagar de nossas memórias o passado lindo que existiu dentro desta casa.
Obrigado a todos.