Delegado ignora foto achada em carro da vítima do maníaco

Mãe de Natália, Maria Aparecida, não se conforma de a ossada da filha ter ficado esquecida por 3 meses no IML

Carlos Calaes – Repórter Jornal Hoje em Dia

Embora admita a hipótese de que a comerciante Adina Feitor Porto, 34 anos, também possa ter sido vítima do maníaco do Bairro Industrial, a Polícia Civil teria agido com negligência, não tendo realizado perícia de forma correta e desprezado provas durante a investigação do crime.De acordo com o marido da vítima, o comerciante Íris Oliveira Porto, 36 anos, que, depois do crime se mudou para Jacinto, no Vale do Jequitinhonha, sua mulher desapareceu em 27 de janeiro de 2009, no Bairro Lindeia, Região do Barreiro. O carro dela foi deixado na Via Expressa, Bairro Camargos, também na Região Noroeste.

Segundo Porto, a perícia não teria coletado impressões digitais no veículo. O corpo de Adina apareceu uma semana depois, numa estrada rural da cidade de Sarzedo, e também apresentava sinais de estrangulamento. Devido à decomposição do corpo, não foi possível coletar o material genético do assassino.

“Levei o carro para um lava-jato e encontrei o retrato de um homem desconhecido, moreno, de cavanhaque, com idade de 30 a 37 anos. Pedi meu irmão para entregar o retrato a um delegado da 6ª Secional de Contagem, que prometeu investigar. Isso nunca aconteceu, pois não me deram nenhum retorno”. Porto disse que só decidiu revelar o fato após tomar conhecimento da atuação do maníaco.

Já a família da estudante de Direito Natália Cristina de Almeida Paiva, 27 anos, está revoltada. “Minha filha ficou esquecida no IML por três meses e depois foi enterrada como indigente. É revoltante o descaso com o sofrimento da gente, de tudo que nós passamos desde o ano passado quando ela desapareceu. A gente procurava todo dia, todo dia a gente ligava para o IML e para a Delegacia de Desaparecidos e nada. Agora, ela aparece assim, depois de tudo isso. Só Deus para me dar forças nesse momento”.

Com essas palavras, entrecortada pelo choro compulsivo, e amparada pelas filhas Naiara e Natiele, a dona de casa Maria Aparecida de Almeida Paiva, 42 anos, resumiu, ontem toda a agonia que ela e familiares viveram desde outubro do ano passado, quando sua filha mais velha desapareceu misteriosamente.

Nesta quarta-feira (10), a Polícia Civil informou que um exame odonto-legal no IML confirmou que a ossada encontrada no dia 29 de outubro de 2009 numa mata de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, pertence à estudante. A polícia também admitiu que a jovem pode ter sido assassinada por um maníaco que, comprovadamente, estuprou e matou pelo menos outras três mulheres.

Maria Aparecida, as filhas e toda a família não se conformam com o que eles classificam como “descaso pela dor da família”. “Nós tínhamos até telefones pessoais de quatro funcionários do IML. Todos os dias a gente ligava para ver se tinha alguma coisa. A resposta era sempre a mesma: nada. Agora, ficamos sabendo que o corpo da Natália estava lá, abandonado, e o pior, foi enterrada como uma indigente”, desabafou Natiele Aparecida de Almeida Paiva, 17 anos, irmã mais nova de Natália.

“Na manhã daquele dia (7 de outubro de 2009), eu e a Natália levantamos cedo e tomados café. Ela estava muito feliz, pois morava em São Paulo e tinha se mudado para cá há quatro meses. Seria seu primeiro dia de trabalho. Foi a última vez que conversei com ela”, disse Natiele, sem segurar o choro. A auxiliar de enfermagem Naiara de Almeida Paiva, 23 anos, disse que sua irmã, Natália, tinha sonho de estudar Direito e ser juíza.

“Ela dizia que queria lutar por mais justiça nesse mundo. Agora, acontece uma coisa assim com minha. Durante todo esse tempo, a gente tinha uma ponta de esperança que ela fosse aparecer, e ,agora, recebemos a notícia da pior forma. É muita falta de respeito com a gente”, resumiu.

A tragédia familiar começou a se desenhar no dia 7 de outubro do ano passado, quando Natália saiu para seu primeiro dia de trabalho como estagiária em uma imobiliária da região e sumiu misteriosamente. Na noite seguinte, seu carro, uma picape Strada, foi localizada pela polícia na Rua Gerson Coelho, no Barreiro de Baixo.

Ossada ficou no IML três meses

No dia 29 daquele mês, uma ossada de mulher foi encontrada em uma mata em Ribeirão das Neves. Levada para o IML, onde deu entrada como desconhecida. A ossada permaneceu esquecida em uma gaveta da geladeira durante três meses.

Até agora, a Polícia Civil, não explicou por que o IML não teria comunicado o fato à Divisão de Referência à Pessoa Desaparecida (DRPD), onde a delegada Cristina Coeli instaurou inquérito para apurar o fato. Embora ligassem todos os dias para o IML, familiares de Natália também não foram informados que uma ossada de mulher encontrada em Neves estava no local.

O caso agora está sob responsabilidade do delegado Frederico Abelha, que já investigava as mortes confirmadas por exames de DNA cujos cadáveres apresentaram a “assinatura do maníaco” (sêmem). São elas da empresária Ana Carolina Menezes Assunção, 27 anos, Maria Helena Aguilar, de 48 anos, e a contadora Edna Cordeiro de Oliveira Freitas, 35 anos. No final da tarde, a Polícia Civil informou que analisa as rotinas de intercâmbio de informações entre o trabalho investigativo das divisões especializadas e do IML.

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