CARLOS RHIENCK

Velório de Bruno Nascimento: jovem teria feito tratamento para se livrar das drogas
Uma tragédia ocorreu nesta quinta-feira (26) em Belo Horizonte, depois que um pai chamou a Polícia Militar para conter o filho usuário de drogas. O estudante de Direito Bruno do Nascimento Magalhães, 29 anos, reagiu e acabou morto com quatro tiros no peito pelo policial Ricardo Andrade, do 22º Batalhão da PM. A morte aconteceu por volta da 1 hora, no interior da casa na Rua Violeta, no Bairro Esplanada, Zona Leste da capital. O estudante morreu quando teria se recusado a abrir a porta do quarto, onde supostamente estava consumindo drogas em companhia de três homens.
Segundo testemunhas, o pai de Bruno, o aposentado Marco Antônio Andrade Magalhães, tentou convencer o filho a abrir a porta do quarto e, como não foi atendido, chamou a polícia. No interior da casa, o soldado Ricardo Andrade, com consentimento do pai, arrombou a porta do quarto e, então, teria sido ameaçado pelo estudante, que o esfaqueou na perna esquerda. Então, o policial se afastou para o corredor, chegando à cozinha, e caiu. Bruno, então, teria tentado matá-lo com a faca, quando foi baleado quatro vezes no peito. Ele morreu ao ser levado para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII.
A Polícia Civil está investigando informações controversas sobre os tiros disparados pelo militar. Dados que constam de um relatório redigido por policiais civis, que será incluido no inquérito, apontam que foram recolhidas quatro cápsulas de uma arma automática calibre Ponto 40, que era a utilizada pelo soldado Ricardo Andrade e que foi recolhida pela Polícia Militar. A PM anunciou a abertura de um inquérito interno e o afastamento do militar de suas funções. Familiares do estudante contaram, no entanto, terem ouvido 16 disparos dentro da residência, o que foi refutado pelo delegado de permanência da Delegacia de Homicídios ontem, Marcelo Augusto Couto.
Ele afirmou que “algumas pessoas que estavam dentro da casa contaram que ouviram oito disparos, mas esta informação não foi confirmada”. Na ocorrência redigida pelos militares, de número 975132, consta que o soldado Ricardo teria efetuado 12 disparos com sua arma. Antes que o corpo do estudante fosse removido do Pronto-Socorro para o IML, o médico chefe da equipe que tentou salvar Bruno Nascimento, informou para policiais civis que trabalhavam no caso que havia encontrado quatro ferimentos de arma de fogo.
“Ele se perdeu no mundo das drogas”
Familiares de Bruno que não quiseram se identificar foram ouvidos pelo HOJE EM DIA, enquanto o corpo estava no IML, falaram sobre o estudante. “Bruno era uma ótima pessoa, educada, aplicada nos estudos, mas que se perdeu ao entrar no mundo das drogas”, afirmou. Essas pessoas contaram que o jovem havia sido internado, duas vezes, em uma clínica de recuperação de São Paulo e chegado a demonstrar que iria se livrar do vício. Mas, ao retornar para Belo Horizonte, ele teria se envolvido novamente com outros viciados e foi influenciado. Documentos policiais que serão incluídos no inquérito apontam que Bruno já havia até ameaçado seu próprio pai, há alguns meses, quando Marco Antônio teria tentado fazer com que o filho deixasse de consumir cocaína, principalmente dentro do quarto, trancado. O estudante teria respondido para o pai ameaçando agressão a facada.
Antes da meia-noite, Bruno Nascimento estava em um bar do bairro, bebendo em companhia de três homens. Nesse encontro, o estudante teria convidado os três estranhos para continuar a beber cerveja em seu quarto, onde poderia, também, segundo informações do relatório policial, usar drogas. Na casa do estudante, os quatro homens entraram para o quarto e trancaram a porta. Algum tempo depois, o pai de Bruno acordou assustado com barulho que vinha do quarto e ficou preocupado ao ouvir seu filho falando alto e gritando, parecendo muito agitado. Por isto, ele pediu para o filho abrir a porta do quarto e, ao ouvir vozes de estranhos, queria que ele, Bruno, colocasse os desconhecidos para fora. Bruno teria gritado, demonstrando revolta.
Diante da recusa do filho, o aposentado telefonou para uma filha que mora no mesmo bairro, a quem relatou o que estava acontecendo, pedindo para que ela telefonasse para a polícia. O soldado Ricardo Andrade contou que estava trabalhando em ronda, na Zona Leste, quando recebeu o comunicado para comparecer à Rua Violeta e atender à ocorrência. Ele e o sargento Ramos afirmaram que tentaram, durante muito tempo, convencer o estudante a abrir a porta para que o pai pudesse ver o que estava acontecendo, até que a porta foi arrombada. Essa versão foi apresentada pelos militares empenhados, pelo pai e outra pessoa da família do estudante, além dos dois homens que se disseram viciados que supostamente estariam usando drogas com Bruno. O estudante, que teria até vendido objetos de casa para comprar drogas, acabou trancando sua matrícula em uma faculdade de Direito, neste ano.
“Todos os militares da ativa são submetidos a cursos de reciclagem de dois em dois anos, como forma de treinamento em defesa pessoal, uso de armamentos e reforço de técnicas para o trabalho”, relatou ontem o tenente-coronel Ricardo Matos Calixto, que falou em nome da Polícia Militar. “Os soldados passam também por treinamento durante nove meses, principalmente para enfrentar situações inesperadas, e além de todo esse preparo, todos passam por orientações diárias, em suas unidades, sobre abordagens e atendimento de ocorrências”. Perguntado sobre como classificaria a ocorrência da madrugada de ontem, que poderia configurar legítima defesa ou despreparo do policial, o oficial disse que não poderia opinar. “Só o inquérito interno é que vai definir”, afirmou.


























