Por Roberto de Souza Pinto – Presidente do Sindvel
Quando aceitei o desafio de liderar a Missão Ásia, organizada pelo Sindvel, em parceria com o SEBRAE-MG, entre os dias 6 e 20 de outubro, sabia que não estaríamos apenas representando Santa Rita do Sapucaí em um cenário internacional. Estávamos assumindo uma responsabilidade maior: buscar caminhos reais para fortalecer a competitividade do Vale da Eletrônica em um mercado cada vez mais globalizado e desafiador. Não podemos ignorar que a instabilidade tributária e os entraves estruturais do Brasil impõem limites à expansão das indústrias brasileiras. Por isso, mais do que uma viagem, essa missão tem sido um movimento estratégico para identificar fornecedores diretos, novas rotas de produção e oportunidades de instalação internacional para nossas empresas.
Nossa primeira imersão em Dubai revelou muito mais do que seus arranha-céus e símbolos de riqueza. Dubai é, hoje, um hub global de negócios, tecnologia e logística, construído sobre uma visão clara de futuro. Ali, a transição de um país antes dependente do petróleo para uma potência desburocratizada e orientada à inovação é evidente. Conhecemos de perto esses ambientes, caminhando pelas Zonas Francas, espaços cuidadosamente desenhados para atrair empresas com base setorial, dotados de legislações específicas — inspiradas no sistema jurídico inglês —, oferecendo segurança, agilidade e, sobretudo, condições tributárias altamente competitivas. A média de IVA é de apenas 5%, e projetos e produtos inovadores com o selo Made in Dubai recebem incentivos tributários, logísticos e de exportação automaticamente. Isso significa que, ao instalar parte de sua produção aqui, uma empresa brasileira pode acessar com vantagem mercados globalizados, como os árabes, asiáticos, europeus, africanos e americanos.
Muitos podem imaginar barreiras culturais ou linguísticas, mas é importante esclarecer: Dubai fala a língua dos negócios. O inglês é o idioma oficial das relações institucionais e comerciais, e a presença internacional é tamanha que o ambiente lembra mais uma rede global do que um país específico. Da mesma forma, a presença das mulheres no trabalho é expressiva — mais de 60% dos cargos de liderança do governo são ocupados por mulheres.
O governo se posiciona como curador do ecossistema, estimulando a iniciativa privada e premiando resultados. A Câmara de Comércio de Dubai, por exemplo, é uma instituição sem fins lucrativos dedicada exclusivamente à atração de investimentos e à redução de barreiras para quem pretende se instalar no país. São mais de 40 escritórios ao redor do mundo, preparados para acelerar processos e facilitar a abertura de empresas em tempo recorde.
Algo que também chamou minha atenção foi a forma como valorizam o conceito de cluster produtivo — exatamente como fazemos em Santa Rita do Sapucaí desde os anos 1980, algo que nos permitiu ser reconhecidos como APL-04 e Parque Tecnológico Aberto. Dubai não busca apenas empresas; busca ecossistemas, cadeias complementares, conhecimento compartilhado. Eles entendem que a competitividade nasce da cooperação entre setores e querem atrair quem seja capaz de agregar tecnologia e inteligência industrial. Mesmo com regras rígidas, principalmente quanto à responsabilidade sobre trabalhadores estrangeiros, é impressionante ver um ambiente onde investidores internacionais podem deter 100% de seu negócio — um sinal claro de que o país está disposto a ser palco da inovação global.
Outro ponto marcante é a cultura do relacionamento. Em Dubai, networking é política industrial. As empresas não avançam apenas por mérito técnico, mas por reconhecimento e indicação. Projetos bem referenciados atraem não só fundos privados, mas também recursos governamentais e até investimentos diretos de membros da família real. Startups, diferentemente do modelo brasileiro, não vivem de expectativa: precisam gerar receita, pagar aluguel, contribuir com o ecossistema. Isso cria um ambiente onde o pragmatismo e a inovação caminham juntos.
Finalizo esse primeiro trecho da missão, aqui em Dubai, com a certeza de que o Vale da Eletrônica tem potencial para dialogar de igual para igual com polos globais como este. Mas, para isso, precisamos dar um passo adiante. Não basta exportar produtos; é preciso exportar presença, marca e tecnologia. Devemos negociar diretamente com os fabricantes de semicondutores e chips dedicados, reduzir intermediários e considerar bases internacionais como parte de uma estratégia de expansão — não como fuga. A missão que lidero não é sobre romper com nossas raízes, mas sobre garantir que as empresas tenham espaço para crescer além das fronteiras.
Se queremos construir um legado industrial que sobreviva às próximas décadas, precisamos pensar como players globais. Em Dubai, também aprendi algo fundamental: uma liderança pode ser passageira, mas um movimento coletivo tem poder de durar gerações.


























