“A Precisão da Vida
Uma Reflexão sobre Thales Ribeiro Motta

Há homens que atravessam a vida como quem resolve uma equação complexa: com paciência, método e uma fé inabalável de que cada número tem seu lugar, cada variável sua função, e que no final, tudo se harmoniza numa solução perfeita. Thales Ribeiro Motta é um desses homens.

Aos 95 anos, este mineiro do Sul de Minas que fez da Bahia seu lar por sete décadas, carrega consigo não apenas a sabedoria dos números que tanto ama, mas a precisão matemática de uma vida bem vivida. Engenheiro decano da Escola de Engenharia de Ouro Preto, ele construiu mais do que estruturas e projetos – edificou uma família, uma carreira, um legado que transcende qualquer cálculo.

Desde menino, Thales via no mundo dos números uma linguagem divina. Onde outros enxergavam apenas algarismos, ele descobria a ordem perfeita da Criação. Cada conta que fazia, cada problema que resolvia, era como uma oração silenciosa, um diálogo íntimo com a precisão infinita de Deus. E assim, entre cálculos e orações, foi moldando não apenas sua mente brilhante, mas seu coração humilde e sua fé católica profunda.

A vida, porém, não é uma equação simples. Há variáveis que não controlamos, incógnitas que nos desafiam, resultados que nos surpreendem. Há quatro meses, Thales perdeu o amor de sua vida, sua companheira de jornada, aquela que por 66 anos dividiu com ele não apenas o lar, mas os sonhos, as preocupações, as alegrias de ver crescer quatro filhos e nove netos. A ausência dela é uma presença constante, uma saudade que, como diria Tristão de Atayde, é “presença da ausência”.

Mas Thales, homem de fé e de números, sabe que mesmo na dor há uma matemática divina. Sabe que o amor verdadeiro não se subtrai com a morte – multiplica-se na memória, eleva-se na saudade, perpetua-se nos filhos e netos que carregam seu DNA, seus valores, sua maneira única de ver o mundo através da lente da precisão e da humildade.

Agora, enfrentando o diagnóstico da leucemia com a mesma serenidade com que sempre resolveu os problemas mais complexos, Thales nos ensina que há cálculos que transcendem a matemática terrena. Há equações do coração que só a fé resolve. Há uma precisão divina em cada momento vivido, em cada abraço dado, em cada “eu te amo” pensado e sussurrado.

Sua lucidez aos 95 anos é um presente não apenas para ele, mas para todos nós que temos o privilégio de testemunhar como um homem verdadeiramente sábio se prepara para a última grande incógnita da vida. Ele não a teme – a abraça com a mesma curiosidade científica e a mesma confiança em Deus que sempre o caracterizaram.

Os números que tanto ama continuam a fascinar sua mente brilhante. Mas agora ele compreende que a maior de todas as equações é esta: uma vida de 95 anos, multiplicada pelo amor de uma família, elevada pela fé em Deus, resulta numa herança infinita de exemplo, sabedoria e amor.

Thales Ribeiro Motta, engenheiro de profissão, matemático por paixão, cristão por convicção, pai e avô por graça divina, nos ensina que a verdadeira precisão da vida não está nos cálculos que fazemos, mas no amor que deixamos. E nessa conta, ele é, sem dúvida, um homem rico além de qualquer medida.

Que sua jornada final seja tão precisa quanto sua vida inteira: cercada de amor, iluminada pela fé, e calculada pela infinita misericórdia dAquele que conhece todos os números, mas valoriza acima de tudo cada coração humilde que O busca.

“Tudo posso naquele que me dá a força.” (Filipenses 4,13)

Te amo papai!”

Seu filho

Thales era irmão do saudoso Daltro Lisboa Motta.