Engenheiros da turma de 73, do INATEL, relatam os tempos de
repúblicas, divididos entre provas, causos etílicos e inusitados
Não é de hoje que a tecnologia transcende mundo afora a pequena Santa Rita do Sapucaí, o chamado Vale de Eletrônica, no Sul de Minas Gerais. Também conhecida como Vale do Silício Brasileiro, conta 40 mil habitantes e mais de 150 empresas e startups de tecnologia.
Por suas ruas e esquinas é comum cruzar com nômades digitais de diversos países e profissionais de tecnologia e economia criativa nos diversos eventos que acontecem na cidade. É praticamente um parque tecnológico a céu aberto, mas com toda singeleza e charme característicos dos mais belos lugares do interior das Minas Gerais.
Porém, um curioso livro – e ao que parece, inédito – conta as peripécias daqueles que deram origem ao status da Santa Rita dos dias de hoje. A memória da quinta turma de formandos do Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL), em 1973, que acaba de completar 45 anos, ganha forma literária pelas mãos de três engenheiros que protagonizaram a formação do Vale da Eletrônica.
A despeito do grupo ter participando da evolução da telefonia brasileira, que aliás compõe um capítulo do livro ‘Coletânea de Causos do Turma do INATEL/73’, a narrativa não se prende a esses aspectos. É bom lembrar que eles contribuíram para que o telefone de magneto passasse para a Discagem Direta à Distância (DDI), o que significou um avanço
representado hoje pela tefefonia da era digital.
Mas o que o livro conta são os chamados melhores tempos de um grupo de 153 alunos mais a Maria Celeste, a única da turma. Como ela, muito já partiram para outro plano, mas até hoje a turma cultiva o hábito de encontrar-se anualmente.
Pelo que consta, os futuros engenheiros digladiavam aulas temíveis, como as de cálculo e de eletrônica, com o ócio peculiar dos jovens daqueles tempos, em meio a corriqueiras bebedeiras, gozações diversas, causos inusitados, peladas de futebol, bailes e comedidas desordens em pleno regime militar.
A ideia surgiu durante os encontros, onde obviamente vinham à tona as acontecências daqueles tempos de república. O livro foi escrito em Manaus (AM) pelo engenheiro e escritor Jorge Franco de Sá, com a ajuda dos colegas Márcio Eulálio de Barros, que mora em Itajubá (MG) e coordena os encontros anuais desde 1978; e de Francisco Alvarenga
Campos, de Campinas (SP).
Jorge conta que o livro tem causos e fotos enviados por 18 colegas, mas contou também com apoio do Centro de Memória do INATEL, que contribuiu com diversas informações e cessão de fotografias da época.
“No começo, nossos encontros eram de cinco em cinco anos. A partir do 30º ano de comemoração, celebrados em 2003, os encontros passaram a ser anuais. As histórias e a amizade crescem na mesma proporção”, diz o manauara, casado com a mineira Monica de Oliveira Franco de Sá, revisora do livro e também engenheira.
Para financiar impressão do livro, os autores contaram com o apoio de empresas e recursos cedidos por diversos colegas.
Foram produzidos 200 exemplares, divididos entre todos os participantes e envolvidos no projeto. Mas, como diz Jorge, o maior legado desta Coletânea é de que será, para sempre, “a preservação de lembranças que poderemos legar aos nossos filhos e netos”. Vida longa à turma de 73.
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De Paris a Paris, no Sul de Minas
A caminhada Paris/Paris é um dos marcos da turma e do livro. Nada a ver com a capital francesa. Consta de uma promessa entre os colegas, caso passagem no concorrido vestibular do INATEL. Se passassem, iriam fazer a caminhada de 120 km, entre Paraisópolis, próximo a Itajubá e Santa Rita; até Aparecida do Norte.
Com o êxito no vestibular, fizeram a caminhada em dois dias. A caminhada, muito antes dos conhecidos caminhos da fé, era um costume dos paraisopolenses para agradecer alguma graça alcançada. O trajeto seguia da ‘Parisópolis a Pariscida’, que na corruptela mineira diz-se ‘Paris a Paris’. Desde 2012 o evento passou a integrar o encontro da turma.
Essas historietas e diversos causos compõem a publicação ‘Coletânea de Causos do Turma do INATEL/73’, que apresenta-se em quatro partes e 18 capítulos. Há a parte histórica sobre a faculdade, informações sobe formatura da turma, a importância do paraninfo, Euclides Quandt de Oliveira, figura central da telecomunicação do Brasil àquela época.
Homenagem aos professores e breve história do telefone no Brasil marcam a primeira parte.
O livro faz um relato sobre a origem dos alunos, provenientes de todos os cantos do País. Na sequência, informes de todos os encontros realizados desde 1978, tendo sempre como cicerone Márcio Eulálio de Barros, um dos autores do livro. Em 2018 a turma completou 45 anos de formatura.
“Todos os anos criamos uma frase para marcar o encontro. A deste ano foi ‘Amizade que supera o tempo e a distância’, sugerida pelo colega Zé Ribeiro”, ressalta o Jorge Franco de Sá. As comemorações chegam a reunir em média 60 pessoas do grupo, sempre acompanhados de suas esposas.
No epílogo, os autores fazem menção a glória e a juventude, que são de fatos efêmeras, porém evidencias as memórias de boa convivência do grupo. “Elas ficarão eternizadas em nossos corações e poderão agora ser compartilhadas com todos, através da leitura deste nosso livro”, aponta os três autores. E eles estão cobertos de razão!


























