Bem no pé da Serra da Canastra, ali pelos lados de Passos, havia uma assombração que assustava muita gente em uma horta de mexerica. Era um lugar sombrio e de muita ventania, onde era possível ouvir de vez em quando uma voz baixinha, que dizia:
– Doeu, ai! – Doeu, ai!!!
Só que, por mais que se olhasse ao redor, não havia ninguém por perto dizendo aquilo. Era muito estranho. E o interessante é que essa assombração não trabalhava só de noite. Era uma assombração bastante esforçada. Ela fazia três turnos: cedo, de tarde e também na escuridão.
Após ouvir o fantasma, teve neguinho que, de tanto susto, subiu a Serra da Canastra correndo até o pico sem olhar para trás. Dizem que teve um que atravessou o lago de Furnas a nado. E detalhe: o sujeito nem sabia nadar. Outros tremiam tanto que batiam palmas com o forévis.
Segundo o povo, um homem havia matado outro no pomar de mexerica, com várias facadas. E tinha sido uma morte violenta e muito dolorida. Por isso a alma da vítima gemia, principalmente quando ventava muito.
Um belo dia, um mendigo bêbado, que não sabia da assombração, sentou ao lado de uma laranjeira do pomar de mexerica e viu que um pedaço de disco do cantor Wando (um daqueles antigos LPs) estava preso em um dos galhos. E o curioso é que o vento balançava o galho, fazendo com que o disco se esfregasse em um espinho, fazendo o Wando cantar o refrão da música Gosto de Maçã, um de seus maiores sucessos. E o refrão dizia:
– Doeu, ai! – Doeu, ai!!!
Foi o fim da assombração do pomar de mexerica. O mendigo bêbado é a prova de que a cachaça e a ignorância realmente nos dão uma coragem danada.
Frase da semana:
- Para bom entendedor, meia palavras bas… (internet)
- Dívida para mim é sagrada. Deus lhe pague! (internet)
- Gosto e forévis, cada um tem o seu. (Sandro Mendes)
Sandro Mendes (jornalista formado pela PUC de Belo Horizonte)


























