UM CHEVETE MARRON FEZES

Sandro Mendes

Sandro Mendes

Meu primeiro carro foi um Chevette ano 1979, cor marron fezes. Foi o pior carro que dirigi na vida. Não bastava ter uma cor horrível, tinha também que ser uma porcaria. O freio não funcionava direito. Dava pane elétrica constantemente. Entrava água quando chovia e inundava tudo. Se passasse em poça dágua, molhava o motor e não funcionava mais. O volante não tinha folga, mas férias prolongadas. Nem sei por qual razão tinha câmbio, porque era praticamente impossível passar marcha nele.

O Chevette parecia ter vida própria. Parecia funcionário ruim. Se você xingasse, aí é que o danado piorava. Enfezava e não funcionava mesmo.

O curioso é que muita gente importante andou nele comigo: o deputado Ailton Vilela, de quem fui assessor de imprensa; o colega de faculdade Fernando Furtado, empresário que lançou e até hoje é sócio da banda Skank; o colega de república Alessandro Furtado, que hoje é urologista, ex-presidente da Unimed e vereador eleito em Lavras; Eugenio Moreira e Rafael Sanzio, ambos repórteres do jornal Estado de Minas e mais um monte de vítimas inocentes.

Entrar no Chevette qualquer um entrava. O problema era o Chevette sair do lugar. Certa vez minha turma de faculdade resolveu acampar na Serra do Cipó, que fica a 100 km de Belo Horizonte. Aquele carro marron fezes foi dando defeito de BH até o acampamento. Foi uma verdadeira tortura, uma viagem de fato inesquecível para todos nós.

Normalmente gastaríamos uma hora até a Serra do Cipó, mas naquele dia gastamos seis. Marco Antônio Botelho, um jornalista da cidade de Contagem, que curiosamente vivia sempre pintado de Merthiolate por todo o corpo, pois dizia que fazia bico numa oficina de geladeira e frequente se machucava, virou-se para mim e disse:

– Véio, que bom que estamos acampando. Sinta o ar puro, ouça os pássaros e a cachoeira. Isso é o céu. Só queria te fazer uma pergunta que está me incomodando:

– Precisava trazer esse Chevette?

Frase da semana: “Dias melhores virão: chamam-se sábados, domingos e feriados.” (internet)

*Sandro Mendes é jornalista e publicitário formado pela PUC de Belo Horizontedengue-ofere

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