Uma característica da vida em grandes cidades é a refeição comprada na rua. Normalmente, guloseimas como cachorros-quentes, doces e bolos não fornecem todos os nutrientes que precisamos para uma alimentação saudável. Mas é possível seguir uma regrinha básica para garantir uma boa dieta: colorir o cardápio do dia. Tarefa que pode ficar mais fácil quando, a poucos metros de uma mesinha de bolos, encontramos uma feira de frutas e verduras.
Foi um cenário como esse que a reportagem do UOL encontrou em um dia de semana no Largo da Batata, em São Paulo. No local, por volta das 5h00 da manhã, ambulantes montam seus tabuleiros para garantir, com café-com-leite e bolos, o desjejum do paulistano apressado. Vão embora às 7h00, horário em que, num canto do calçadão do Largo, as barracas de uma feira de produtos orgânicos começam a receber sua clientela.
Para avaliar a qualidade nutricional dos alimentos que colorem o cenário cinza daquele canto da cidade, fomos acompanhados pela nutricionista Andrea Stingelin Forlenza, da clínica Nutravie. E na conversa com vendedores e consumidores, pudemos verificar hábitos alimentares extremos, com muito doce e pouca fruta contrastando com muita verdura, fruta e legume, sem agrotóxico.
Muito bolo e pouca fruta
Na banca de café da manhã de Abinadabe Joel de Jesus tem bolo de mandioca, broinha de milho, rosquinha de leite. Boa variedade para um café da manhã? A nutricionista Andrea acha que não. “O ideal é que, em cada refeição, tenhamos cores diferentes. Se a gente olhar aqui, só tem amarelo, marrom”, diz Andrea.
Para ela, o colorido diferente pode vir de frutas e verduras. O vendedor de café-da-manhã no Largo da Batata se defende. “Se eu colocar fruta na banca, não vendo nada”, diz Abinadabe. A nutricionista não discorda. “É característica do brasileiro uma alimentação monocromática, com pouca”.
A diarista Maria José, 28, comprou um bolinho na banca de Abinadabe. Diz que só às vezes toma o café na rua. Quando dá tempo, para não sair em jejum de casa, come pão com mortadela e queijo e café com leite. E a fruta? “Só à tarde ou à noite, se me der vontade”, confessa. Para se prevenir da fome repentina, leva um pacote de bolacha doce na bolsa.
O café da manhã da diarista é bem parecido com o do pintor Domingos Máximo, 60. Na banca no Largo da Batata, pediu café-com-leite e bolo de fubá. A fruta também rareia. “Como às vezes, depois do almoço. Levo marmita com arroz e feijão e frango ou carne”. Verduras e legumes, só mesmo no final do dia, quando janta com a mulher. “Não levo salada na marmita porque murcha”.
Para a nutricionista, os exemplos de Domingos e de Maria José confirmam o que diz o vendedor Abinadabe sobre o hábito alimentar brasileiro. “Pão, mortadela, queijo, café com leite, é tudo meio laranja, amarelo e marrom”, diz a nutricionista. “Quando a gente come coisas de uma cor só, acaba ingerindo pouca variedade de nutrientes”.
Fruta e verduras são fontes de vitaminas e antioxidantes. Mas os benefícios vão além. “A fruta dá saciedade, tem fibras. Quando não comemos, exageramos no pão, no recheio”, diz a nutricionista.
Andréa não condena o bolinho na banca do Abinadabe, desde que seja garantida uma boa variedade de alimentos ao longo do dia. Olhar para o prato e ver se há pelo menos duas ou três cores diferentes é uma boa forma de avaliar o teor de nutrientes da refeição. Uma forma de garantir variedade seria optar por bolos com frutas no recheio – como uva passas ou banana.
No fim das contas, a maior crítica ficou para a bolacha doce na bolsa da diarista. “Por que não trocar por uma fruta?”, questiona a especialista.


























