Entre a clausura das freiras e a cela das detentas, o que vale na Copa é a paixão cor verde e amarela
Xandu Alves
São José dos Campos
As freiras reclamam do gol perdido. As presas chamam o juiz de ladrão. O hotel serve cardápio que foi de Pelé. As amigas voltam à sala do jogo depois de 44 anos. A idosa comemora em silêncio.
Torcer pela seleção é quase uma obrigação do brasileiro, mas há quem leve a missão muito a sério. Não há cela, parede ou doença que impeçam de vibrar pelo time. A paixão fala mais alto do que a realidade, seja ela qual for.
Teresa Silva, 54 anos, sonha com Neymar e a liberdade. Ela cumpre pena há seis meses no Centro de Ressocialização Feminino de São José, no centro, ao lado de 143 mulheres, e é uma das torcedoras mais animadas do presídio.
“O Neymar é muito esforçado e sempre vai pra frente. Os outros são menos assim”, diz ela. O “assim” é código para “menos craque”.
As detentas Jéssica Soares, 21 anos, Fabrícia Silva, 20 anos e Giseli Santos, 33 anos, fazem coro ao considerar o juiz da Copa “um ladrão”. Mas que juiz? “Qualquer um”, dizem.
No presídio, a rotina foi alterada para permitir assistir aos jogos do Brasil na Copa. As mulheres acompanham a seleção de suas celas, com até 10 companheiras, e um televisor.
“Elas fazem mais barulho do que os homens”, conta uma funcionária.
Silêncio. Barulho não faz parte da realidade no Recanto São José de Deus, asilo mantido pelo hospital Pio 12, em Santana, na região norte de São José. Lá, vivem 68 idosos.
Muitos deles não têm condição de acompanhar os jogos do Brasil, por problemas de saúde. Mas Teresa Timóteo, 63 anos, mesmo sem conseguir falar, faz questão de vestir-se inteira de verde-amarelo nos jogos da Copa. “Ela é a alegria da casa”, diz Célia Cardoso, assessora do asilo.
Também o silêncio faz parte da vida das religiosas do Instituto das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, congregação de São José. Menos nos jogos da Copa do Mundo.
As 11 irmãs da comunidade do Hospital Antoninho da Rocha Marmo, administrado pela congregação, fazem questão de torcer pelo Brasil.
E nem a clausura, que exige o silêncio, é obstáculo para as torcedoras da fé.
“Ganhamos camisas da ONG Saúde Criança, que trabalha no hospital, para torcer pela seleção. É um momento diferente da nossa vida, mas muito bom também”, afirma irmã Edy Faria Ribeiro, 46 anos, superiora da comunidade.
Ela garante que as irmãs conhecem o futebol e reclamam do jogador quando perde uma chance de gol, mas sem palavrões, claro.
“Não faz parte da nossa vida religiosa. A gente reclama, sim, mas com uns puxa-vida, cabeça dura e fique atento”, conta Edy.

























