Comissão conclui que radares serviam para desviar dinheiro público

Polêmica em Pouso Alegre foi investigada pela Câmara Municipal. 

Equipamentos foram implantados na cidade sem estudo técnico.

Do G1 Sul de Minas

A Comissão Especial de Investigação (CEI) da Câmara de Vereadores de Pouso Alegre, apresentou na noite desta segunda-feira (27), em uma sessão extraordinária, o relatório final do inquérito que investigou a instalação de radares no município pela empresa Consladel. O documento apontou diversas irregularidades no contrato firmado pela prefeitura e a empresa responsável pela instalação dos equipamentos. A conclusão do relatório é de que o projeto era na realidade, um suposto esquema de desvio do dinheiro público. Nele, faltava o estudo prévio, que informaria a necessidade da implantação dos radares.

A comissão também apurou que os radares foram instalados na cidade sem nenhum estudo técnico que comprovasse a necessidade dos equipamentos, o que é exigido pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran). O relatório também mostra que os equipamentos aplicavam multas arbitrariamente, penalizando indevidamente os moradores da cidade. Algumas pessoas chegaram a receber mais de 10 multas em apenas seis meses.

A Prefeitura de Pouso Alegre informou através da assessoria de comunicação, que nenhum documento ou relatório foi enviado ao Executivo e que também não foi dado acesso ao processo da comissão. Segundo a assessoria, ninguém da prefeitura pode se manifestar por não ter conhecimento do conteúdo do processo. O Ministério Público Estadual instaurou um inquérito civil para apurar as possíveis irregularidades no contrato entre a prefeitura e a empresa, mas ele ainda não foi concluído.

O relatório da Câmara de Vereadores será encaminhado agora ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Estado.

Investigação

A Comissão Especial de Inquérito foi criada em novembro de 2010 para analisar o contrato da prefeitura com a empresa Consladel, responsável pela instalação e manutenção dos radares na cidade. Ela foi composta a pedido de cinco vereadores após denúncia de um cidadão que alegava irregularidades na contratação da empresa. Menos de um mês depois, o juiz da 4ª Vara Cível de Pouso Alegre, José Hélio da Silva, concedeu uma liminar que suspendia os trabalhos da comissão. A liminar foi pedida pelos advogados da Prefeitura de Pouso Alegre que entraram com um mandado de segurança alegando irregularidades na formação da comissão.

Segundo o procurador geral do município, Leandro Reis, um dos erros era que dois vereadores que assinaram o requerimento para criação da comissão estavam participando das investigações. No final do ano passado, a liminar foi cassada e a CEI retomou os trabalhos. Assim que os trabalhos foram reiniciados, a comissão teve acesso às informações já levantados pelo Ministério Público no Inquérito Civil Público em andamento.

A Polêmica

A polêmica sobre a quantidade de multas aplicadas na cidade surgiu no final de 2009, quando a empresa Consladel instalou 16 radares semafóricos e de controle de velocidade em Pouso Alegre. Só nos primeiros seis meses em vigor, mais de 10 mil notificações de trânsito foram emitidas. A quantidade de multas assustou os motoristas e gerou reclamações. Audiências públicas foram realizadas na Câmara Municipal para debater o assunto.

Uma reportagem do “Fantástico”, em março de 2011, sobre a máfia das multas no Brasil, citou o nome da empresa que mantinha o contrato em Pouso Alegre e deu mais força ainda às suspeitas. Após a reportagem, a Prefeitura de Pouso Alegre cancelou o contrato com a Consladel. O cancelamento foi feito com base em um relatório da Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito. O documento apontou que a empresa não estava executando os serviços de forma satisfatória. Em junho, os equipamentos foram retirados das ruas de Pouso Alegre.

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