Impossível descrever todos os momentos de tristeza e agonia que marcaram as 10 horas do velório da estudante Yumi Imanishi Faraci, 18 anos, ontem, no Cemitério e Crematório Parque Renascer, em Contagem, região Metropolitana de Belo Horizonte. Mas os gritos desesperados da mãe da jovem, Sônia Faraci, pouco antes do corpo ser cremado, vão ficar na memória de amigos e parentes que compareceram ao local. “Yumi, é a mamãe, acorda…”, implorava Sônia.

Enquanto isso, o pai da menina, Geraldo Faraci, também tentava entender a tragédia debruçado sobre o caixão, beijando a face da filha. Atendendo a um desejo dela, as cinzas serão lançadas na Enseada do Bananal, na Ilha Grande, local da tragédia onde ela morreu, ao lado do casal de amigos Isabella Godinho e Paulo Sarmiento, além de dezenas de outras pessoas – os pais da estudante não sabem se retornam ao litoral do Rio de Janeiro.

A mãe da jovem se emocionava com a chegada de cada amigo da filha. De longe, era possível sentir a agonia do seu choro. Uma colega da estudante no curso de arquitetura na UFMG desmaiou e precisou ser socorrida. Isabela, uma prima que dividia apartamento com Yumi, no Bairro Ouro Preto, Região da Pampulha, comentou com amigos que também foi convidada a passar o réveillon em Ilha Grande, mas que não foi porque se preparava para uma prova. “Se eu tivesse ido, estaria no mesmo quarto”, comentou Isabela, emocionada.

Paulo Sarmiento e Isabella Rocha estavam no mesmo quarto de Yumi. Os seis meses de convívio no primeiro período da faculdade de arquitetura e urbanismo foram mais que suficientes para estreitar as relações dos novos amigos. A união refletiu-se ontem no enterro de Isabella, no Cemitério Campo da Saudade, em Belo Horizonte. Ainda bastante abalados com os momentos de terror na praia, os sobreviventes Eric Crevels, Gustavo Pucci e Cristiano Dayrell foram reconfortar os pais da jovem, acompanhados de outros colegas de faculdade. Enquanto isso, no Cemitério da Colina, em Belo Horizonte, Paulo Sarmiento era enterrado.

Transferido de carro do Instituto Médico-Legal do Rio de Janeiro direto para a funerária, o corpo de Isabella começou a ser velado na madrugada de ontem. A irmã caçula, Camila, 15 anos, era a que demonstrava maior sofrimento com a perda. “Ela é minha irmã. Ela é minha irmã”, gritava a adolescente no momento do enterro, sem acreditar na morte de Isabella.

Atônito, Sebastião Fátima da Rocha, pai da jovem, tentava consolar a esposa Beatriz, também bastante atordoada. Filha do meio de três filhos, há quatro meses Isabella se mudou da casa dos pais, em um condomínio de Lagoa Santa, para um apartamento próximo à Escola de Arquitetura.

O pai de Isabella passou a noite da virada na companhia de amigos num clube no entorno da Lagoa da Pampulha. Depois dos festejos, aproveitou para dormir na casa dos amigos. Pouco depois de acordar, às 13h, recebeu um telefonema do Rio de Janeiro pedindo que a família comparecesse em Ilha Grande, pois havia ocorrido um desastre e a filha poderia estar envolvida. Imediatamente, o amigo da família Bruno Borer se dispôs a seguir de carro até o estado fluminense. Desesperados, eles sequer passaram em Lagoa Santa, onde moram os pais de Isabella, e foram conferir a informação da Defesa Civil de Angra dos Reis. “Foi uma viagem muito difícil. A gente viajou com muita esperança. O tempo todo rezando”, recorda Borer.

A cada instante o pai tentava contato com a filha, mas não tinha notícias. Até a bateria do celular descarregar, o pai só sabia que alguns dos amigos tinham se salvado. “Nos disseram que a Luciana (Rattes) estava viva”, contou o amigo durante o velório da jovem. Por um lado, se a família de Isabella lamentava a perda da filha no deslizamento da encosta da Enseada do Bananal na madrugada do ano-novo, por outro os parentes de Gustavo Pucci de Oliveira, 22 anos, agradeciam a Deus “o milagre” pelo resgate do jovem praticamente sem ferimentos.