Inventar coisas em sua marcenaria de fundo de quintal sempre foi um dos passa-tempos prediletos do agricultor Otávio Rodrigues Filho, 65 anos, morador da zona rural de Bom Repouso, no Sul de Minas. O que ele não imaginava é que seu talento para estas invenções de madeira fosse, um dia, resolver o problema de muita gente, facilitar a vida de seus filhos e ajudá-los a ganhar mais dinheiro.
Mas o melhor de sua última invenção, uma máquina para embalar morangos, foi o reconhecimento, não só dos vizinhos da comunidade onde vive, mas até de representantes de órgãos importantes do Estado, o que lhe valeu o segundo lugar na classificação dos vencedores do projeto “Criatividade Rural”. Agora, seu Otávio, como é conhecido na comunidade, aguarda feliz pela oportunidade de assistir aos jogos da próxima Copa do Mundo em uma TV de 32 polegadas, que ele ganhou como prêmio, além da geladeira duplex e uma máquina digital.
“Este está sendo um ano de sorte para mim”, resume seu Otávio, ao contar que viu uma embaladora semelhante à que criou em 2000, quando chegaram ao município de Bom Repouso produtores de morango do Estado de São Paulo, trazendo a novidade: uma máquina elétrica que embalava as bandejas de morango para comercialização.
“Na época, eu era produtor de batatas, nem plantava morangos, mas, depois, o preço foi ficando ruim e meus meninos (ele tem seis filhos e uma filha) tiveram que passar a trabalhar para os produtores de morango. Após algum tempo, eles resolveram plantar as próprias lavouras. O preço do morango estava bom, mas me falavam que se tivessem uma máquina elétrica como aquela, o lucro seria maior porque ia reduzir muito a mão-de-obra. O problema é que o custo era alto, e eles não tinham como comprar. Foi aí que resolvi inventar uma com o que eu tinha lá mesmo na marcenaria”, conta.
Acostumado a fazer trolos, carrinhos de todo o tipo para os filhos, seu Otávio já tinha intimidade com as rodinhas e sistemas de eixos, e criou o equipamento. “A primeira filmadora ficou meio esquisita, mas depois foi aperfeiçoada”, lembra.
O equipamento é uma máquina manual que embala bandejas de morangos. É feito de peças de madeira em forma retangular e possui canos de PVC, pedaços de cabo de vassoura, pregos, dobradiças, fio de cobre, plug, soquete de louça, corda de viola e uma garrafa PET descartável com água.
Para funcionar, o rolo de filme plástico é acoplado na garrafa descartável para facilitar o manuseio. Os canos de PVC e o cabo de vassoura servem como suporte para que o filme plástico seja esticado. As bandejas de morango (também chamadas de cumbuquinhas) são enroladas no filme plástico, que é cortado pela corda de viola aquecida por uma lâmpada.
Seu Otávio garante que mal acreditava quando viu que o negócio funcionando e começou a ser utilizado pelos filhos. “Logo depois vieram os vizinhos e produtores de outras bandas, também interessados”, conta. Ele já perdeu a conta de quantas réplicas fez e confessa que ganhou até um dinheirinho fabricando as embaladoras em sua marcenaria.
“Comecei a vender por R$ 70,00. Depois da premiação, estou pensando em subir um pouco o preço porque ficou mais valorizado, não é”, brinca, bem humorado.
A extensionista da Emater de Bom Repouso, Raquel Helena do Amaral, diz que a invenção de seu Otávio vem ajudando muito os produtores do município, que não tinham recursos para comprar uma máquina industrial. “Essa máquina torna o serviço mais rápido, mais eficiente e agrega valor ao produto, corretamente embalado. Bem acomodado, o morango tem mais durabilidade e é protegido durante o transporte da poeira ou de insetos, o que garante mais qualidade para o consumidor final”, ressalta.
A caixa de 1,2 quilo do morango, corretamente embalada, está saindo de Bom Repouso por preço que varia entre R$ 6,00 a R$ 8,00.Com o emprego da filmadora inventada por seu Otávio, duas pessoas conseguem embalar até quatro mil cumbuquinhas durante oito horas de trabalho, o que resulta em um custo operacional baixo – principal vantagem de sua criação.Bom Repouso tem cerca de 300 hectares ocupados com o cultivo do morango, que transformou-se, nos últimos anos, no carro chefe da economia agrícola do município, alternado com a produção de batatas. Cerca de 1.500 famílias trabalham diretamente na produção durante o ano todo, no cultivo ou nos cuidados com a lavoura e a colheita e preparação dos frutos para comercialização.

























