PMs que teriam deixado assassinos fugir prestam depoimento

Comandante da PM decretou prisão administrativa dos policiais na quarta

A Polícia Militar informou que o depoimento dos dois policiais suspeitos de desvio de conduta terminou apenas na manhã desta quinta-feira (22), no Rio. Eles estão presos administrativamente no 13º BPM (Praça Tiradentes) desde a noite de quarta-feira (21). Os nomes dos policiais não foram revelados para preservar a identidade deles por conta do inquérito ainda em andamento, informou o relações-públicas da PM Oderlei dos Santos.

Gravações feitas por câmeras de segurança de estabelecimentos do Centro do Rio, exibidas no “Jornal da Globo” de quarta-feira (21), mostram o assalto que terminou com a morte de Evandro João da Silva, de 42 anos, coordenador do grupo AfroReggae, na madrugada de domingo (18). Segundo as imagens, os policiais teriam deixado os assaltantes fugirem, e teriam omitido socorro à vítima.

O major Oderlei afirmou ainda que os policiais prestaram depoimento separaradamente. Em entrevista à Globo News, ele disse também que foi instaurado um procedimento apuratório, e que a prisão disciplinar tem o limite de 72 horas. Após esse prazo, a comandante do batalhão vai deliberar sobre a necessidade deles permanecerem presos ou ficarem em liberdade enquanto transcorre o procedimento.

“Qualquer pessoa que fosse identificada na Justiça num primeiro momento não seria presa já que não houve flagrante. Somente na esfera militar é possível realizar essa prisão domiciliar. A PM está sendo rigorosa, mas não pode haver abuso”, disse Oderlei.

O major Oderlei afirmou também que foram pedidas as imagens sem edição que comprovariam o provável desvio de conduta dos policiais.

“Já tivemos exemplos de imagens que mostravam uma coisa e era outra; não quer dizer que seja esse caso”, afirmou ele.

Ele informou que se for comprovado o desvio de conduta ou algum outro crime, isso pode acarretar na expulsão dos policiais.

Imagens mostram suposta omissão de policiais

As imagens revelam a omissão da polícia no socorro à vítima e indicam que policiais podem ter liberado os suspeitos e ficado com os objetos roubados. A polícia agora investiga os policiais que participaram da ação, que não resultou em nenhum preso.

Evandro João da Silva era coordenador de projetos sociais do AfroReggae, um grupo cultural do Rio de Janeiro (leia a notícia sobre sua morte).

O corpo dele foi encontrado por policiais militares na Rua do Carmo, na esquina com a Rua do Ouvidor.

Imagens em 3 câmeras

Investigadores da polícia foram atrás de imagens de câmeras de segurança que existem na rua onde o ataque aconteceu. O objetivo era descobrir os autores do crime. Mas, em vez de esclarecer a história, o vídeo levantou suspeita.

Tudo ficou registrado em três câmeras. Uma delas, instalada em um prédio, mostra a chegada de dois criminosos, à 1h20 da madrugada. Outra câmera, posicionada dentro de uma agência bancária, registra o ataque.

Segundo o registro, os criminosos aparecem lutando com a vítima. Em seguida, eles jogam Evandro, que está de camisa branca, no chão e atiram contra ele. Os assaltantes tiram os tênis e a jaqueta dele e fogem.

Cerca de 30 segundos depois, uma patrulha da Polícia Militar passa direto por Evandro, que agoniza na calçada. A câmera anterior mostra por outro ângulo a fuga dos criminosos, com os pertences do coordenador na mão, e a chegada da polícia.

Um dos policiais aparece com a arma em punho. A impressão que dá é a de que os policiais vão prender os assaltantes. Duas pessoas aparecem pela metade em imagens de um outra câmera. O PM surge com o tênis e a jaqueta vermelha da vítima, e leva tudo para dentro do carro da polícia.

Ainda de acordo com as imagens do circuito de segurança, à 1h26m53s, quatro minutos depois da abordagem, um dos suspeitos aparece indo embora.

Os investigadores agora querem saber porque os policiais não socorreram Evandro imediatamente e também porque um dos homens que, pelas imagens, parece ter participado do assassinato, foi liberado minutos depois.

Além disso, a polícia investiga porque os pertences de Evandro não foram entregues em uma delegacia e, ainda, porque nada do que foi mostrado pelas câmeras está no relatório dos policiais.

‘Agora é ir atrás dos bandidos’, diz amigo da vítima

Em entrevista ao G1 na manhã desta quinta-feira (22), o coordenador executivo e um dos fundadores do grupo, José Junior, disse que é preciso prender os envolvidos.

“Vamos lutar, partir para dentro para que esses policiais sejam punidos exemplarmente. Mas não quero tirar o foco dos bandidos, porque foram eles que mataram e que são os verdadeiros culpados.Tanto os policiais quanto os assassinos devem ser presos. Vamos lutar por isso”, falou José.

Ele disse ainda que depois da morte de Evandro, só dá mais vontade de lutar e continuar com os projetos sociais.

“Temos relações boas com a polícia, inclusive temos projetos em parceria com a PM em Minas e com a Polícia Civil no Rio. Para se ter ideia, o Afroreggae até ajudou em comemorações da polícia no Rio. E esses projetos vão continuar mesmo assim”, disse ele.

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